quinta-feira, 2 de abril de 2015

Há dez anos, o adeus a João Paulo II, o Papa peregrino e pela paz

Saúde frágil após atentado, agravada pelo Parkinson, comoveu o mundo. ‘Eu busquei vocês. Agora vocês vêm a mim. Eu agradeço’, disse aos jovens antes de morrer, em abril de 2005
Encerrando 26 anos de pontificado, o terceiro mais longo da História, a lenta e comovente agonia do Papa João Paulo II chegou ao fim no dia 2 de abril de 2005. Eram 21h37m (16h37 em Brasília) quando o Papa, aos 84 anos, morreu em sua residência, no Vaticano. Em todo o mundo, durante dias católicos fizeram vigílias em igrejas lotadas e missas foram celebradas pelo pontífice. O Papa peregrino, que visitou quatro vezes o Brasil, dirigiu aos jovens as suas últimas palavras:

— Eu busquei vocês. Agora vocês vêm a mim. Eu agradeço.
Na Praça de São Pedro, 60 mil fiéis reagiram à morte do Papa com um longo aplauso, um sinal de respeito na Itália, seguido de silêncio e choro. Um dos líderes mais influentes do século XX por suas posições em relação ao Leste europeu, onde regimes comunistas estavam decadentes, o polonês João Paulo II foi, talvez, o Papa que mais viajou na história pontifícia. Ele esteve em 129 países, percorrendo cerca de 1,2 milhão de quilômetros. Nos seus funerais, Roma parou com a chegada de 4 milhões de visitantes, e as autoridades decidiram suspender o acesso à fila de um milhão de pessoas que enfrentaram 14 horas para ver o corpo do Papa. 

Por ser considerado um “Papa global”, a morte de João Paulo II foi também a maior notícia da História, ocupando mais espaço na mídia que o 11 de Setembro. Cerca de 75 mil reportagens foram escritas até 72 horas após a sua morte, quase três vezes mais do que as citações no mesmo período aos atentados às Torres Gêmeas, em Nova York.
Chamado também de Papa viajante, atleta da fé, estadista, o Papa carismático e comunicador foi incansável ao longo de quase três décadas na missão de levar ao mundo a sua mensagem de paz. Ele também se notabilizou pelo empenho na tentativa de conciliação entre religiões, mas foi duramente criticado por posições conservadoras em relação a “controles de natalidade artificiais”, após afirmar que as pílulas anticoncepcionais eram "forças destrutivas". Os números do seu pontificado foram superlativos. 

Os quilômetros percorridos em suas viagens apostólicas são equivalentes a três vezes a distância entre a Lua e a Terra (ou 29 voltas em torno do planeta). Ao redor do mundo, ele visitou 715 cidades, sendo que, no caso da Itália, realizou 146 viagens. João Paulo II também se encontrou com 738 chefes de Estado e recebeu em audiência 246 primeiros-ministros.

Debilitado pelo atentado sofrido em 1981, o Papa passou, no total, 162 dias em hospitais, tendo sido internado nove vezes por motivos diversos, incluindo cirurgias e quedas. Nos seus últimos anos, o mundo se comoveu com as imagens de um Papa com saúde frágil, agravada pelo mal de Parkinson. Eram imagens totalmente diferentes do cardeal polonês Karol Wojtyla, de porte atlético, que subiu ao Trono de Pedro, no dia 16 de outubro de 1978, aos 58 anos. Em toda a História da Igreja, João Paulo II também foi o Papa responsável pelo maior número de beatificações (1.338) e canonizações (482). 

Em 2011, ele mesmo foi beatificado pelo seu sucessor, o Papa Bento XVI, enquanto em 2014 o Papa Francisco fez a sua canonização.

No Brasil, João Paulo II esteve quatro vezes. A primeira viagem, em 1980, teve como pontos altos a beatificação do padre Anchieta, fundador de São Paulo, e a participação no X Congresso Eucarístico Nacional, em Fortaleza. Nos 12 dias da visita, o Papa esteve ainda em 13 capitais e em Aparecida (SP). Na ocasião, a música "À bênção, João de Deus", composta por Péricles de Barros, foi tocada em várias cerimônias. 

A canção ganhou uma versão de torcedores do Fluminense, transformada em hino dos tricolores nas arquibancadas do Maracanã. No Rio também ficou famosa a visita do Papa à favela do Vidigal, na Zona Sul. Num gesto inesperado, ele tirou do dedo um anel papal de ouro para que fosse vendido em benefício dos favelados, que chegaram a ser ameaçados de remoção. Momentos antes, o Papa falara do seu desejo de que a Igreja do Brasil fosse a “Igreja dos pobres”.


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